O Castro Marim Golfe & Country Club vai começar a regar os seus campos com água reciclada. O projeto vai permitir substituir a utilização anual de cerca de 450 mil metros cúbicos de água superficial por Água para Reutilização (ApR), ou seja, proveniente de uma ETAR.
O contrato entre a “Águas do Algarve” e o Castro Marim Golfe & Country Club foi assinado na manhã desta segunda-feira, 3 de Julho.
Este acordo vem na sequência da conclusão da primeira fase do projeto “Infraestruturas de Elevação e Adução de ApR – Água para Reutilização da ETAR de Vila Real de Santo António”.
A empreitada envolveu a instalação de um sistema de desinfeção por cloragem e a construção de uma estação elevatória para ApR e do troço de ligação à conduta de ligação a dois pontos de entrega, nomeadamente ao Castro Marim Golfe e aos Golfes da Quinta do Vale.
Representando um investimento de 1,5 milhões de euros, com financiamento do POSEUR, o projeto permite substituir a utilização anual de cerca de um milhão de metros cúbicos de água superficial por ApR, ficando a ETAR com capacidade instalada para a disponibilização de outros pontos de entrega, quer campos de golfe quer rega agrícola e também para usos urbanos, como lavagem de arruamentos e rega de espaços verdes públicos.
Para David Martins, diretor-geral da Algarvelux, que gere o Castro Marim Golfe, este projeto é um «regozijo» para a unidade hoteleira.
«É um compromisso com o futuro porque todos sabemos da escassez de água. Assinar um contrato em que podemos utilizar uma fonte de água alternativa, que não sejam as superficiais ou as da chuva, é garantia de futuro», disse aos jornalistas.
Do consumo médio, que ronda os 450 mil metros cúbicos, «metade, na pior das hipóteses», será feito com esta água reciclada. Segundo David Martins, continuará, ainda assim, a usar-se «alguma água residual».
«Com este investimento, o preço da água será mais caro, mas temos de ter a consciência de que é um recurso escasso e é preferível pagar um pouco mais», vincou o diretor do Castro Marim Golfe.
De resto, a utilização de águas residuais para rega, que também é feito, no Algarve, nos campos de golfe São Lourenço (Almancil) e Salgados (Albufeira), já é uma prática noutros locais do mundo.
«Nos Estados Unidos, na Europa já se usam estas soluções. Agora é uma questão de informação e de formação dos nossos greenkeepers. Os nossos clientes, que geralmente têm preocupações ambientais, são os primeiros a perceber que o que estamos a fazer é a dar um passo em frente», disse David Martins.
O momento contou com a presença de Hugo Pires, secretário de Estado do Ambiente, que saudou a iniciativa da Águas do Algarve e do Castro Marim Golfe & Country Club.
«Não faz sentido lavarmos as ruas ou regarmos os jardins com a água com que lavamos os dentes. Nós estamos a trabalhar para que esta região se continue a desenvolver, que tenha emprego, e, para isso, há uma coisa de que precisa: água», disse aos jornalistas.
O secretário de Estado mostrou-se também confiante de que este exemplo será replicado por outros campos de golfe algarvios, muitas vezes apontados como grandes consumidores de água.
«Tenho esperança de que este exemplo seja replicado. A indústria do golfe e da hotelaria está muito sensibilizada e disponível para investir neste setor das águas para reutilização», considerou.
Segundo a Águas do Algarve, no que respeita à produção de água para reutilização no Algarve, está previsto um investimento de 23 milhões de euros até 2025.
Estima-se um incremento de 1,4 para 8 milhões de metros cúbicos/ano, destinando-se 71% à utilização pelos campos de golfe.
Para António Eusébio, presidente da Águas do Algarve, «a procura de novas origens, como a produção de ApR e a dessalização, é uma prioridade para fazer face aos impactos das alterações climáticas no Algarve, que se traduzem em menos água nas barragens e nos aquíferos».
Além do contrato assinado, a cerimónia serviu também para lançar uma nova campanha de sensibilização, chamada “Água é vida – não a desperdice” que junta o Grupo Águas de Portugal (AdP), a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e a Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR), com o financiamento do Fundo Ambiental do Ministério do Ambiente e Ação Climática.
A campanha arrancou no Algarve, território que é neste momento o mais afetado pela seca e que no Verão quase duplica a sua população, promovida pela Águas do Algarve, a AMAL – Comunidade Intermunicipal do Algarve, a CCDR Algarve e a Região de Turismo do Algarve.
Conta também com o envolvimento de diferentes associações hoteleiras e de restauração do Algarve que conjugam esforços para apelar a residentes e turistas nacionais e estrangeiros que não desperdicem água.
No final, após o lançamento da campanha em Castro Marim… todos levaram um balde para casa de recordação.
Pedro Lemos (Sul Informação)
Reproduzo na integra a notícia do jornalista Pedro Lemos sobre a reutilização de águas residuais que vão regar um campo de golf em lugar de como tem acontecido até aqui serem lançadas ao mar.
Para mim mais do que esperança é um motivo de grande alegria porque sendo um começo, é algo bastante esperançoso porque “Roma e Pavia não se fizeram num dia”.
O Algarve tem de enveredar rapidamente pela sustentabilidade do seu turismo sob pena de “matar a galinha dos ovos de ouro”.
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